O Quarto Do Despejo
Quebrando o jejum aqui no blog. Impossvel no escrever depois que descobri o Quarto de despejo, da Carolina Maria de Jesus, na biblioteca da editora onde trabalho. O Quarto Do Despejo' title='O Quarto Do Despejo' />Quarto de despejo dirio de uma favelada. Um pouco mais sobre Carolina Maria de Jesus. Quarto de despejo foi lanado pela Livraria Francisco Alves em agosto de 1. Para se ter uma idia do sucesso, para uma tiragem ento ser considerada bem sucedida, era preciso alcanar a margem de, aproximadamente, quatro mil exemplares. Nos cinco anos seguintes, Quarto de despejo foi traduzido para 1. Dinamarca, Holanda, Argentina, Frana, Alemanha, Sucia, Itlia, Tchecoslovquia, Romnia, Inglaterra, Estados Unidos, Rssia, Japo, Polnia, Hungria e Cuba. Quarto de Despejo foi traduzido para mais de treze idiomas. O dirio descreve as vivncias da autora no perodo de 1955 a 1960. ENIzxtvWs/UUfnuz_BnHI/AAAAAAAABXw/n5USwQnH3T4/s1600/Carolina+F.JPG' alt='O Quarto Do Despejo' title='O Quarto Do Despejo' />Sntese da obra. Quarto de despejo um relato de fatos verdicos vivenciados ou presenciados pela autora, que faz questo de registr los quase que diariamente. Em seu dirio, Carolina Maria de Jesus descreve a favela do Canind, as pessoas e o tipo de vida que levam. Relata as brigas constantes entre marido, mulher e vizinhos, a fome, as dificuldades para se obter comida, as doenas a que esto sujeitos os moradores da favela, seus hbitos e costumes, as mortes, o suicdio, a presena constante da misria de uma sociedade marginalizada e esquecida pelos governantes. Aniversrio de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Assim tem incio o dirio de Carolina, que terminar em 1 de janeiro de 1. Levantei as 5 horas e fui carregar gua. Ao longo desses anos, a autora registra a vida na favela, a sua luta diria contra a fome, o esforo para criar com dignidade os filhos Jos Carlos, Joo e Vera Eunice. A fome uma constante ao longo da obra Como horrvel ver um filho comer e perguntar Tem mais Esta palavra tem mais fica oscilando do crebro de uma me que olha a panela e no tem mais. E a pior coisa para uma me ouvir esta sinfonia Mame eu quero po Mame, eu estou com fomeEu estou triste porque no tenho nada para comer. Quando consegue algum alimento, a narradora reflete sobre sua condio de pessoa expulsa do mundo humano Quando eu levava feijo pensava hoje eu estou parecendo gente bem, vou cozinhar feijo. Parece at um sonhoA misria que presencia to chocante que Carolina acha que algum poderia no acreditar no que conta. H existir algum que lendo o que eu escrevo dir. Mas, as misrias so reais. Com grande senso crtico, a autora destaca as visitas do padre favela De manh o padre veio dizer missa. Ontem ele veio com o carro capela e disse aos favelados que eles precisam ter filhos. Penso porque h de ser o pobre quem h de ter filhos se filhos de pobre tem que ser operrio Para o senhor vigrio, os filhos de pobre criam s com po. No vestem e no calam. O contraste entre a favela e a cidade percebido com acuidade e senso crtico por Carolina Quando eu vou na cidade tenho a impresso de que estou no paraso. Acho sublime ver aquelas mulheres e crianas to bem vestidas. To diferentes da favela. As casas com seus vasos de flores e cores variadas. Aquelas paisagens h de encantar os visitantes de So Paulo, que ignoram que a cidade mais afamada da Amrica do Sul est enferma. Com as suas ulceras. As favelas. Fatos corriqueiros como brigas entre marido e mulher, entre as mulheres e os bbados, a presena da Rdio Patrulha, mortes por intoxicao com alimentos putrefatos so narrados com detalhes por Carolina Eu j estou to habituada a ver brigas que j no impressiono. Despertei com um bate fundo perto da janela. Era a Ida e a Amlia. A briga comeou l na Leila. Elas no respeitam nem a extinta. O Joaquim interviu pedindo para respeitar o corpo. Elas foram brigar na rua. Ao olhar atento da narradora nada escapa. Nas favelas, as jovens de 1. Mescla se com as meretrizes, contam suas aventuras. H os que trabalham. E h os que levam a vida a torto e a direito. As pessoas de mais idade trabalham, os jovens que renegam o trabalho. Tem as mes, que catam frutas e legumes nas feiras. Tem as igrejas que d po. Sempre em atrito com os vizinhos por causa dos filhos, Carolina diz Os meus filhos esto defendendo me. Vocs so incultas, no pode compreender. Vou escrever um livro referente a favela. Hei de citar tudo que aqui se passa. E tudo que vocs me fazem. Eu quero escrever o livro, e vocs com estas cenas desagradveis me fornece os argumentos. Carolina demonstra ser uma pessoa exatamente atualizada em relao ao que se passa na vida poltica do pas, o que se comprova pelas constantes referncias aos polticos em destaque na poca, como Carlos Lacerda, Jnio Quadros, Adhemar de Barros e Juscelino Kubitschek. A explorao da boa f do povo pelos polticos na poca de eleies, as visitas dos candidatos favela, os pequenos agrados e as promessas no cumpridas so registradas pela narradora de forma crtica e consciente. Quando um poltico diz nos seus discursos que est ao lado do povo, que visa incluir se na poltica para melhorar as nossas condies de vida pedindo o nosso voto prometendo congelar os preos, j est ciente que abordando este grave problema ele vence nas urnas. Depois divorcia se do povo. Olho o povo com os olhos semicerrados. Com um orgulho que fere a nossa sensibilidade. Sobre sua obra, Carolina afirma Escrevo a misria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, no acreditava em ningum. Odiava os polticos e os patres, porque o meu sonho era escrever e o pobre no pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ningum est habituado a esse tipo de literatura. American Express Card Vector Art. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade. Outros trechos. Eu gosto de ficar dentro de casa, com as portas fechadas. No gosto de ficar nas esquinas conversando. Gosto de ficar sozinha e lendo. Ou escrevendo Virei na rua Frei Antonio Galvo. Quase no tinha papel. Enchi dois sacos na rua Alfredo Maia. Levei um at ao ponto e depois voltei para levar outro. Percorri outras ruas. Conversei um pouco com o senhor Joo Pedro. Fui na casa de uma preta levar umas latas que ela tinha pedido. Latas grandes para plantar flores. Fiquei conhecendo uma pretinha muito limpinha que falava muito bem. Computer Network Hindi Notes Pdf. Disse ser costureira, mas no gostava da profiss. E que admirava me. Catar papel e cantar. Eu sou muito alegre. Todas as manhs eu canto. Sou como as aves, que cantam apenas ao amanhecer. De manh eu estou sempre alegre. A primeira coisa que fao abrir a janela e contemplar o espao. Os meninos tomaram caf e foram a aula. Eles esto alegres porque hoje teve caf. S quem passa fome que d valor a comida. Eu e Vera fomos catar papel. Passei no Frigorifico para pegar lingia. Contei 9 mulheres na fila. Eu tenho mania de observar tudo, contar tudo, marcar os fatos. Encontrei muito papel nas ruas. Ganhei 2. 0 cruzeiros. Fui no bar tomar uma mdia. Uma para mim e outra para a Vera. Gastei 1. 1 cruzeiros. Fiquei catando papel at as 1. Ganhei 5. 0 cruzeiros. Quando eu era menina o meu sonho era ser homem para defender o Brasil porque eu lia a Historia do Brasil e ficava sabendo que existia guerra. S lia os nomes masculinos como defensor da patria. Ento eu dizia para a minha me Porque a senhora no faz eu virar homem Ela dizia Se voc passar por debaixo do arco ris voc vira homem. Etka 7 4 Pl Site. Quando o arco iris surgia eu ia correndo na sua direo. Mas o arco iris estava sempre distanciando. Igual os politicos distantes do povo. Eu canava e sentava. Depois comeava a cho Mas o povo no deve canar. No deve cho Deve lutar para melhorar o Brasil para os nossos filhos no sofrer o que estamos sofrendo. Eu voltava e dizia para a mame O arco iris foge de mim.